A importância da água
A água é essencial à vida e, embora nem sempre seja encarada como tal, é o alimento mais importante para os animais.
Disponibilizar água em quantidade e com qualidade, independentemente da sua origem (furos, poços, minas, charcas, barragens, linhas de água ou mesmo da rede de abastecimento público), é fundamental para um animal expressar o seu máximo potencial produtivo e, ao mesmo tempo, manter condições ideais de sanidade e bem-estar, produzir alimentos seguros e manter uma atividade física regular.
Entre outras funções, a água constitui-se como elemento essencial para:
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- Propiciar a realização de reações químicas no organismo;
- Manter a pressão intracelular;
- Facilitar os processos digestivos;
- Transportar nutrientes, oxigênio e sais minerais;
- Eliminar toxinas através da urina;
- Permitir a regulação térmica;
- Proteger estruturas críticas do corpo.
Se a água for fornecida em quantidade insuficiente, por reduzida disponibilidade ou má qualidade, os animais ingerem menos alimentos, com a consequente diminuição do crescimento ou produção, tornando-se também menos ativos e mais suscetíveis a doenças.
Requisitos de qualidade da água
A água pode ser um veículo de diversas substâncias e microrganismos potencialmente perigosos, com consequências para a saúde e bem-estar dos animais, para além da possível transferência dessas substâncias indesejáveis para os géneros alimentícios de origem animal (carne, leite e ovos).
É da responsabilidade dos operadores do setor, nomeadamente os produtores pecuários, disponibilizar aos animais água adequada às suas necessidades, contribuindo para o desejado nível de proteção da saúde pública.
Além de garantir a qualidade da água na sua origem, é igualmente importante assegurar a adequada higienização dos bebedouros disponibilizados aos animais. Os equipamentos devem ser concebidos, instalados e mantidos de modo a minimizar a contaminação da água e alimentos para os animais.
Não existem atualmente parâmetros ou valores legalmente fixados para a água destinada exclusivamente ao abeberamento dos animais. Há, no entanto, boas práticas e requisitos de higiene de carácter geral que devem ser observados, bem como valores de referência que permitem enquadrar o conceito de “água com qualidade adequada”.
Requisitos gerais
Uma água de qualidade adequada deve ser não só palatável e bem tolerada, mas também apropriada para a sua utilização em produção animal, de forma a assegurar uma boa distribuição:
- Palatabilidade: pré-requisito para ingestão de uma quantidade suficiente de água, que por sua vez é essencial para uma ingestão regular de alimentos secos;
- Tolerância: presença de ingredientes e/ou substâncias indesejáveis em concentrações que não sejam nocivas ou prejudiciais para os animais ou para os géneros alimentícios por eles produzidos;
- Usabilidade: sem efeitos adversos para as instalações, equipamentos e/ou canalizações dos sistemas de fornecimentos e aquando da sua utilização no fabrico de alimentos para animais;
- Tratamento: águas provenientes de rios, lagos, furos, poços e minas muitas vezes não são próprias para consumo animal sem o seu tratamento prévio. Apenas processos e produtos aprovados/autorizados podem ser utilizados e as respetivas condições e restrições de utilização devem ser observadas.
Requisitos específicos
Ainda que não haja valores legalmente fixados para parâmetros microbiológicos e físico-químicos, há referenciais que se consideram valores desejáveis (a DGAV fornece orientações sobre estes valores):
- Parâmetros microbiológicos: muitas fontes de água contêm microrganismos, incluindo bactérias, vírus, protozoários e ovos de parasitas, alguns inofensivos para os animais, outros com risco para a sua saúde. Os valores desejáveis para parâmetros bacteriológicos de águas não tratadas variam com o modo de produção e a densidade animal, nomeadamente no que se refere a agentes patogénicos, contaminantes fecais e enumeração de microrganismos viáveis que podem constituir risco para a saúde animal, embora idealmente estes valores devam ser nulos.Os equipamentos e sistemas de distribuição devem contribuir para assegurar a qualidade microbiológica da água, especialmente em sistemas de produção intensiva e nos animais jovens, onde a suscetibilidade dos animais é significativamente superior.
- Parâmetros físico-químicos: existem diversos parâmetros que permitem avaliar a qualidade físico-química da água, como sejam:
- pH: habitualmente recomenda-se um valor entre 6,5 e 9. Águas muito ácidas podem facilitar acidoses e redução da ingestão dos alimentos, bem como propiciar a corrosão dos sistemas de abastecimento. Águas muito alcalinas (pH > 9) podem induzir distúrbios digestivos e diarreias, deterioração da conversão alimentar e redução da ingestão de alimentos;
- Salinidade: traduz a quantidade de sais existentes na água, expressa pela sua condutividade elétrica (CE = µS/cm a 20ºC). O seu efeito varia com o tipo de animal, o teor de humidade e elementos constantes nos alimentos, temperatura ambiente e da água e natureza dos minerais presentes na água. Um valor de salinidade até 1.600 não deve ter efeitos significativos na produção animal, podendo valores mais elevados conduzir a situações de diarreia, recusa da água, problemas gestacionais e de desenvolvimento e no limite intoxicação;
- Cloretos: têm diversas funções no organismo, incluindo a regulação da pressão osmótica e o equilíbrio ácido-base. Têm igualmente um papel importante nos processos digestivos. A tolerância dos animais aos cloretos varia dentro da mesma espécie / categoria animal, pelo que os teores máximos aceitáveis são variáveis. Níveis excessivos de cloretos nas águas podem resultar em sede excessiva, aumento de excreção urinária, descargas nasais, falta de apetite, vómitos, diarreia, dores abdominais, prostração, convulsões e morte;
- Outros parâmetros químicos: em níveis elevados, alguns elementos químicos (iões) são tóxicos para os animais. Podendo ocorrer naturalmente nas águas, frequentemente a sua presença advém da atividade humana, incluindo a inadequada gestão de resíduos, contaminando as águas superficiais ou de profundidade. Dada a sua potencial toxicidade, estes iões (ex. ferro, cobre, arsénio, etc) devem ser avaliados em conjunto com a restante alimentação, para garantir teores globais da dieta aceitáveis.
Necessidades de água dos animais
A quantidade de água de que os animais necessitam depende de muitos fatores, incluindo a espécie, raça, temperatura ambiente, o peso de cada animal, a sua fase de vida ou do ciclo produtivo (ex. crescimento, engorda, gestação, lactação), a taxa de atividade metabólica, a dieta alimentar e respetivo nível de ingestão, o estado de saúde, o sistema de abeberamento, entre outros.
Por norma, os animais devem ter sempre água disponível e/ou próxima da zona de alimentação. Isto é tanto mais importante quanto maior a densidade de animais e o tipo de animal em causa (ex. produção de leite tem mais exigências do que produção de carne). Se a água não estiver sempre disponível, deve ser distribuída em quantidades adequadas, pelo menos uma vez por dia.
É necessário também ter em consideração que quando os animais são alimentados com pastagens verdes e/ou alimentos forrageiros com elevado teor de humidade, estes alimentos podem fornecer 75% a 100% das necessidades de água do animal. De igual forma, a água produzida no metabolismo dos alimentos pode assegurar até 20% das necessidades dos animais.
Gestão do acesso à água
O fornecimento de água deve ser assegurado preferencialmente em bebedouros alimentados por gravidade, já que os nitratos, bactérias, matéria orgânica e sólidos suspensos são fontes comuns de contaminação e de redução da qualidade das águas superficiais. Assim é reduzida a contaminação fecal, a degradação de margens e a suspensão dos sedimentos, bem como a proteção das zonas de nascente, sendo também mais fácil evitar o excesso de pastoreio em locais específicos.
Embora a regra geral seja que os animais devem ter livre acesso à água, há situações em que esse acesso deve ser vedado ou condicionado, sobretudo quando estamos a falar de lagoas, charcas ou zonas de nascente.
Os furos ou poços, bem como as lagoas ou charcas devem ser protegidos do arrastamento que as águas superficiais possam fazer de fezes ou outros contaminantes, nomeadamente as águas de drenagem dos parques de alojamento dos animais, ou aqueles resultantes da erosão dos terrenos adjacentes à área de drenagem da fonte de água. Pela mesma razão, a aplicação de fertilizantes e adubos, bem como herbicidas e/ou pesticidas, nas zonas adjacentes às charcas ou às nascentes, deve ser cuidadosamente avaliada.
Outra razão que pode levar ao condicionamento do acesso às massas de água é a evaporação, que pode provocar uma concentração dos contaminantes dissolvidos, bem como o desenvolvimento de microrganismos. De igual forma, com o aquecimento da água e se existirem nutrientes em excesso, pode facilitar e provocar o crescimento de algas, que degradam a qualidade da água.
Adicionalmente, condicionar o acesso a águas de superfície pode ter um impacto muito positivo no “habitat” das margens e na sua cobertura vegetal, que constitui um filtro para a retenção de eventuais sedimentos que são arrastados, bem como da matéria orgânica ou dejetos, e fixa nutrientes que seriam arrastados para a água.
Por norma, quando a água é disponibilizada a baixa pressão, devem ser utilizados bebedouros de nível constante. Alguns aspetos a observar são os seguintes:
- Se os animais / pastagens não são vigiados com muita frequência, prever sistemas redundantes e sistemas de alarme;
- Os bebedouros ou pias não devem ser muito grandes, para que exista um fluxo de água significativo. Grandes bebedouros / pias tendem a acumular conspurcação, a aquecer e a provocar uma degradação maior da qualidade da água;
- Os sistemas devem ser periodicamente limpos e eventualmente desinfetados, avaliadas as necessidades de manutenção, nomeadamente reparação de fugas, que provocam desperdício de água e/ou a degradação da zona envolvente;
- Se não são utilizados por um período longo, devem ser esvaziados, limpos e mantidos secos.
Análises e amostragem
As principais fontes de água devem ser avaliadas periodicamente, preferencialmente no início do verão e na sua origem, para identificar possíveis problemas em cada local.
Se uma fonte de água analisada apresentar valores marginais, um plano de gestão deve ser desenvolvido para a utilização dessa fonte, antes que a água se torne problemática para a saúde e constitua um risco. Se a qualidade da água for ignorada e certos elementos atingirem valores limite, o desempenho dos animais é afetado negativamente.
Sempre que se detetarem irregularidades ou na necessidade de esclarecer eventuais patologias que afetam os animais, as amostras podem ser igualmente recolhidas diretamente nos sistemas de distribuição.
A amostragem a realizar deve ser pré-definida (procedimentos de recolha e parâmetros a avaliar), em função da finalidade das análises, devendo estas ser realizadas por laboratórios acreditados.
Os registos relativos às análises efetuadas com os respetivos resultados analíticos, bem como dos tratamentos efetuados, devem ser conservados.
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