Combater a resistência antimicrobiana através da redução do uso de antibióticos

A resistência antimicrobiana é uma preocupação de saúde significativa a nível mundial, que pode ser exacerbada pela utilização excessiva ou indevida de antibióticos na produção animal, na agricultura e na saúde humana.

Estas práticas contribuem para o desenvolvimento e proliferação de bactérias resistentes, que podem passar para o ser humano por diversas vias, incluindo o consumo de carne, o contacto com animais e a disseminação no meio ambiente.

Reduzir a utilização de antibióticos na produção animal é essencial para mitigar as resistências antimicrobianas, salvaguardar a saúde pública e manter a eficácia dos antibióticos no tratamento de infeções em humanos.

Contexto histórico e práticas atuais

Os antibióticos são utilizados na produção animal desde os anos 50, com 3 grandes objetivos: tratar animais doentes, prevenir doenças e promover o crescimento.

Estes 2 últimos objetivos são problemáticos, já que envolvem a administração de doses sub-terapêuticas de antibióticos a grupos significativos de animais, criando as condições ideais para o desenvolvimento de bactérias resistentes. Apesar das evidências crescentes dos riscos associados a estas práticas, em algumas regiões do mundo a utilização de antibióticos na produção animal continua a ser muito prevalente, motivada por incentivos económicos e pela falta de regulamentação.

A União Europeia tem assumido um papel de liderança nesta matéria, promovendo práticas que protegem a saúde pública e forçando a aplicação de mecanismos que procuram limitar a utilização de antibióticos ao estritamente necessário, ou seja, tratar animais doentes. Devemos manter presente que medicar animais doentes é um dever ético dos produtores, que são responsáveis pelo seu bem estar.

O papel da Ovopor na redução das resistências antimicrobianas

A Ovopor, enquanto elemento participante na cadeia de valor da produção animal, quer por via da produção de ovos, quer por via do fabrico de alimentos compostos para animais de criação, tem vindo a advogar ao longo dos últimos anos a adoção de práticas que contribuem para a redução da utilização de antibióticos na produção animal, que estão em linha com as recomendações da OMS e com a agenda “Uma Só Saúde” da União Europeia, que procura equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde humana, animal e dos ecossistemas.

Neste sentido, temos atuado em 4 grandes frentes:

  • Promoção da melhoria das condições de criação junto dos nossos clientes, fazendo recomendações sobre quais as linhas de atuação que contribuem para melhorar a saúde animal e reduzir a incidência de problemas de saúde;
  • Consciencialização para a necessidade de reduzir a utilização de antibióticos, fazendo recomendações de tratamentos alternativos;
  • Formulação de alimentos que contribuem para o fortalecimento da saúde animal e que estão isentos de antibióticos;
  • Utilização criteriosa de antimicrobianos:
    • Não utilizamos antibióticos como promotores de crescimento, o que de resto está proibido na União Europeia desde 2006;
    • Não utilizamos antibióticos com fins preventivos desde o início de 2022 na produção de alimentos compostos e desde 2019 nas nossas galinhas poedeiras;
    • Apenas utilizamos antibióticos para tratar animais doentes como último recurso, evitando em especial o uso de antimicrobianos classificados como de importância crítica pela OMS.

Apesar dos desafios que enfrentamos diariamente, continuamos firmemente empenhados em contribuir para que o consumo global de antibióticos seja reduzido ao estritamente essencial, não apenas na produção animal, mas de forma transversal à saúde humana, animal e vegetal.

As resistências antimicrobianas são processos que podem ser travados, desde que haja um comportamento responsável de todos os intervenientes no sentido da salvaguarda da saúde pública.

Os mecanismos da resistência antimicrobiana

A resistência antimicrobiana ocorre quando uma bactéria desenvolve mecanismos para suportar os efeitos dos antibióticos, que deixam por essa razão de ser eficazes no tratamento das doenças para os quais foram concebidos. Isto pode acontecer de várias formas:

  • Mutação: mutações genéticas aleatórias podem resultar em bactérias que são naturalmente resistentes a determinados antibióticos;
  • Transferência genética: as bactérias podem obter genes resistentes a partir de outras bactérias, por transferência horizontal de genes, que pode ocorrer por via de transformação, transdução ou conjugação;
  • Pressão seletiva: o uso de antibióticos cria um ambiente seletivo onde as bactérias resistentes têm maior probabilidade de sobreviver e proliferar.

No contexto da produção animal, a exposição sistemática a doses reduzidas de antibióticos promove um ambiente em que as bactérias resistentes podem prosperar, multiplicar-se e disseminar-se.

Os impactos da resistência antimicrobiana

A disseminação de resistências antimicrobianas apresenta vários riscos para a saúde humana, para a saúde animal e para o ambiente:

  • Saúde humana: infeções resistentes são mais difíceis de tratar e frequentemente requerem antibióticos mais potentes ou tratamentos alternativos que podem ser menos eficazes, mais dispendiosos e com efeitos secundários mais severos. Isto pode resultar em períodos de doença mais prolongados, maiores custos de saúde e maior mortalidade;
  • Saúde animal: infeções resistentes em animais podem levar a surtos que são mais difíceis de controlar, causando sofrimento animal e perdas económicas para o setor da produção animal;
  • Impacto ambiental: os antibióticos e as bactérias resistentes podem espalhar-se no meio ambiente através dos processos de escoamento das explorações agrícolas, contaminando os solos e as águas, o que contribui para a disseminação das resistências.

 

Estratégias para reduzir o uso de antibióticos na produção animal

Há diversas estratégias que podem ser implementadas para reduzir o uso de antibióticos na produção animal e assim mitigar o desenvolvimento e disseminação de resistências antimicrobianas:

  • Melhoria do maneio: melhorar as condições gerais de saúde e bem estar dos animais contribui para a redução do uso de antibióticos. O bom alojamento dos animais, biossegurança adequada, uma nutrição adaptada e de precisão e uma boa gestão de todos os fatores de produção resultam em menos stress para os animais e melhor higiene, o que se reflete em menos doenças e infeções;
  • Vacinação: vacinar os animais contra doenças comuns reduz a incidência de doenças e a consequente necessidade de antibióticos;
  • Alternativas aos antibióticos: explorar e implementar alternativas aos antibióticos, como sejam os probióticos, pré-bióticos ou produtos fitogénicos (à base de plantas), pode ajudar a preservar a saúde animais e a produtividade, sem contribuir para as resistências antimicrobianas;
  • Legislação e regulação: regulação e diretrizes muito restritivas sobre o uso de antibióticos na produção animal são essenciais. Isto inclui a proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento e a implementação de controlos apertados sobre a sua utilização com caráter meramente preventivo;
  • Educação e consciencialização: melhorar a educação e consciencialização dos agricultores, produtores de animais, veterinários e do público em geral sobre os riscos associados à utilização de antibióticos e sobre a importância do uso responsável de antibióticos é crucial para impulsionar mudanças nesta área.

A conjugação destas estratégias, suportada por um ambiente colaborativo muito forte entre os produtores de animais, a indústria de alimentação animais e as autoridades de saúde, tem permitido reduzir de forma muito significativa o uso de antibióticos na produção animal na União Europeia, demonstrando que é possível manter a saúde animal e a sua produtividade sem que isso dependa do uso de antibióticos.

 

Desafios para o futuro

Apesar dos benefícios claros resultantes da redução do uso de antibióticos na produção animal, há diversos desafios e barreias que devem ser endereçados:

  • Pressões económicas: os agricultores e produtores de animais sofrem frequentemente pressões económicas para maximizar a produtividade e os lucros, criando um incentivo perverso para utilizar antibióticos para promover crescimento e prevenir doenças;
  • Falta de alternativas: em algumas regiões o acesso e conhecimento de alternativas aos antibióticos são limitados, tornando mais difícil a transição para modelos de produção com menor utilização de antibióticos;
  • Lacunas regulatórias: em muitos países, nomeadamente fora da União Europeia, a regulação sobre o uso de antibióticos na produção animal está pouco desenvolvida ou a sua aplicação não é policiada, possibilitando uma utilização excessiva e indevida;
  • Disparidades a nível global: a natureza globalizada da indústria de produção animal significa que as resistências antimicrobianas podem facilmente saltar fronteiras, pelo que será necessário um esforço internacional concertado para endereçar esta questão de forma eficaz. Esta globalização coloca uma pressão económica acrescida sobre a indústria europeia, já que os produtores europeus se vêm obrigados a respeitar normas mais exigentes do que as utilizadas noutras regiões, o que se traduz numa concorrência desigual quando são feitas importações dessas regiões.

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